Queda na cobertura vacinal de crianças acende sinal de alerta

Saúde

Queda na cobertura vacinal de crianças acende sinal de alerta

em

Freepik

Diante do maior retrocesso vacinal dos últimos 30 anos, a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE) reforça a importância da vacinação para o público infantojuvenil em geral e para pacientes oncológicos, que devem ter sua situação imunológica verificada antes do início do tratamento e, se possível, atualizada conforme indicação do oncologista.

O sinal de alerta dos especialistas da área da saúde reflete uma preocupação com os números mais recentes. Segundo o relatório “Situação Mundial da Infância 2023”, elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), uma em cada cinco crianças no mundo não recebeu nenhuma vacina ou não completou o esquema de doses necessário para estar completamente imunizada contra doenças passíveis de prevenção.

Ainda de acordo com a entidade, 4,4 milhões de crianças são salvas todos os anos por conta das vacinas, número que pode chegar a 5,8 milhões até 2030, caso as metas de imunização sejam cumpridas. Porém, fatores como a pandemia de Covid-19, sistemas de saúde sobrecarregados, falta de recursos e, especialmente, mudanças na percepção sobre a importância das vacinas têm dificultado o alcance destes objetivos.

O pediatra Dr. Neviçolino de Carvalho, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica, reforça a confiabilidade e a importância das vacinas para o público infantojuvenil. Ele ressalta que o tratamento oncológico compromete a imunidade do paciente, portanto, estar protegido do ataque de vírus e bactérias, prevenido por vacinas, é primordial para diminuir o impacto de complicações e risco de morbidade e mortalidade dessas doenças.

Outro apontamento feito pelo estudo do Unicef é que, nos domicílios mais pobres, uma em cada cinco crianças não recebeu vacina, enquanto nos mais ricos, apenas uma em 20. “Esses dados escancaram a desigualdade de acesso à saúde na sociedade mundial, o que reforça a necessidade de novas políticas e ações de governos e entidades para um acesso mais equânime às vacinas, adiagnósticos e tratamentos”, ressalta Dr. Neviçolino.

O presidente da SOBOPE lembra ainda que para ser considerada imunizada a criança deve cumprir todo o ciclo vacinal, muitas vezes, não se restringindo apenas a uma dose: “É preciso tomar todas as doses recomendadas do imunizante, incluindo os reforços, quando houver necessidade. Assim, a oferta de doses e a convocação para o comparecimento para a vacinação devem ser perenes”.

Razões da baixa adesão e ações para mudança

Estudo realizado no Brasil com cerca de mil pediatras a fim de compreender a percepção dos mesmos sobre a baixa adesão vacinal apontou que, segundo os especialistas, um dos fatores que mais causam a hesitação vacinal são as fakenews, disseminadas principalmente por meio das redes sociais. Ao todo, 30,95% dos entrevistados deram essa resposta. Outros elementos apontados são a internet como um todo (13,60%) e o WhatsApp (8,43%). A TV também foi mencionada por 3,34% dos entrevistados.

O presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem), Raul Canal, reforça que uma mudança de cenário requer mais investimento em pesquisas e em campanhas, maior valorização dos profissionais de saúde, para que estes estejam engajados, o fortalecimento da demanda por vacinas e uma logística eficiente para sua distribuição. “A mobilização é essencial. Um cenário onde há hesitação vacinal torna-se propício para o retorno de doenças consideradas já erradicadas e gera maior vulnerabilidade para casos graves e até óbitos”, salienta.

O especialista destaca ainda que atuar pelo bem-estar do público infantil é responsabilidade de todos. “Temos que lembrar que, segundo o art. 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Isso quer dizer que todos precisamos zelar pela saúde dos pequenos, e isso inclui, claro, a vacinação”, reforça.





Mais Lidas da Semana

Sair da versão mobile