Saúde
Médica fala sobre riscos da hipertermia e doenças respiratórias no calor
Uma onda de calor atingiu em cheio o Distrito Federal nesta semana e fez o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitir um alerta vermelho chamando a atenção para o risco de morte por hipertermia, condição caracterizada pela perda da capacidade de controle da temperatura corporal em função das altas temperaturas.
Nessa quinta-feira (8), o DF registrou o dia mais quente do ano, com registro de 37,3ºC no Gama. Às 15h, os termômetros no Plano Piloto marcaram 36,5ºC, recorde histórico para a região. Juntamente com o calor, os dias também apresentam umidade relativa do ar muito baixa, que registrou 13% na quinta.
Tanto o calor quanto a baixa umidade do ar geram diversas consequências para o corpo humano. Em entrevista à Agência Brasília, a médica e especialista em alergia e imunologia do Hospital de Base, Marta Guidacci, explica quais são os principais sintomas da hipertermia e das doenças respiratórias relativas à baixa umidade, como se proteger e o que fazer em casos mais graves. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Quais são os principais sintomas da hipertermia?
Olhos bastante avermelhados, as narinas bastante ressecadas, algumas apresentando sangramentos nasais, os lábios extremamente ressecados, a pele muito seca, às vezes com coceira. Tem pessoas que apresentam dermatites (inflamação na pele) que também podem sangrar. Há pacientes com urticária ao calor ou ao suor, também podendo apresentar lesões de pele devido ao aumento de temperatura. Algumas pessoas também podem ter aumento de pressão arterial, tontura, dor de cabeça, até podendo desmaiar. E desidratação, principalmente em crianças e idosos.
Existe mesmo risco de morte por hipertermia?
Existe, e por isso é necessário fazer toda a prevenção. As pessoas que podem ficar mais em casa, que têm ar-condicionado, é importante ficar nesses ambientes mais climatizados. A hipertermia vem por meio da exposição solar, principalmente entre 10h e 17h.
Como conciliar a alta temperatura com a prática de esportes?
É recomendado praticá-los ou em ambientes fechados ou ao ar livre até antes das 10h e só depois das 17h, sempre levando uma garrafinha d’água e passando protetor solar, usando bonés ou chapéus.
Como podemos nos prevenir dos sintomas da hipertermia?
Ingerindo líquidos, tais como água, sucos naturais, água de coco. Não vou incluir as bebidas alcoólicas nem as gasosas. Devemos aliar isso a uma alimentação mais saudável, evitando fast-foods e alimentos muito condimentados. Evitar também ambientes abertos com muita exposição solar, por isso a melhor forma de prevenção à hipertermia é ficar em casa.
E quais são as recomendações para dias de calor intenso?
A recomendação é hidratar o nosso corpo. Ingestão de líquidos, no mínimo dois litros por dia, além de hidratar os olhos, as narinas e os lábios, evitar banhos quentes, evitar a utilização excessiva de sabonetes, que removem a oleosidade da nossa pele, e também de buchas.
Quais são os principais efeitos do calor no organismo humano?
Principalmente a desidratação. Se a pessoa está apresentando muita tontura, até desmaiando, a gente tem que prestar atenção, inclusive checando a pressão arterial. Além disso, o calor deixa as pessoas mais prostradas, sentindo mais fraqueza e desânimo. O aumento da temperatura externa diminui a quantidade de líquido no organismo, por isso a importância de nos hidratarmos melhor, principalmente as crianças e idosos.
Como diferenciar febre de hipertermia?
Toda vez que o paciente achar que ele está com aumento da temperatura corporal, é necessário medir. Se ela estiver acima de 37,7ºC, já é considerado um quadro febril. Agora, muitas pessoas podem estar com outros sintomas e temperatura corporal em 37ºC, isso não é considerado febre.
Quais os riscos de uma onda de calor aliada à baixa umidade relativa do ar?
Muitas pessoas acham que a baixa umidade é ruim para o paciente que tem asma ou rinite alérgica. Os principais fatores desencadeantes das alergias respiratórias são os fungos e ácaros. Quanto menor a umidade, menos eles se proliferam, mas a gente também tem que pensar nos fatores irritativos das mucosas do nariz e das vias aéreas. Por isso, temos que redobrar a atenção para as hidratações. Paciente que tenha dermatite atópica ou de contato, que são doenças alérgicas também, têm que redobrar o cuidado com a pele.
As queimadas que ocorrem nesta época do ano também podem gerar consequências para o organismo humano?
Gostaria de chamar muito a atenção também para a questão das queimadas que estão acontecendo. Pensando nas pessoas que são alérgicas, realmente esses incêndios e suas consequências pioram as vias aéreas superiores e inferiores, podendo piorar condições de rinite, conjuntivite alérgica e até crises de asma. A fuligem proveniente dessas queimadas pode ser prejudicial até para pessoas que não possuem doenças respiratórias.
Para aliviar o calor, muitas vezes as pessoas procuram ficar em ambientes climatizados por ar-condicionado. Sair de um ambiente frio e entrar em contato com o calor é prejudicial?
Isso não é bom. Inclusive existe um tipo de rinite chamada vasomotora, que ocorre por alteração brusca de temperatura. Às vezes estamos em um ambiente muito gelado, climatizado a 17ºC, e saímos para a rua e lá fora está mais de 30ºC. Então, essa mudança muito brusca de temperatura não é boa. O ideal é parar em algum local e fazer uma climatização rápida, para depois enfrentar o aumento de temperatura com mais segurança.
O que fazer caso a pessoa apresente sintomas de alergia ou de hipertermia? Quais unidades de saúde ela deve procurar?
Para casos respiratórios, temos no DF centros de referência tanto para pacientes asmáticos quanto alérgicos, adultos ou crianças. No entanto, as pessoas devem passar primeiro por uma Unidade Básica de Saúde (UBS), e de lá ele será encaminhada, dependendo dos sintomas, para os centros de referências de asma ou de alergia. Agora, se o paciente está apresentando tontura, lábios secos, olhos secos ou narinas sangrando, aí é melhor procurar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Evitar ao máximo ir a um hospital. Vá para a UPA mais próxima da sua casa e lá a pessoa terá atendimento e, se necessário, o médico poderá encaminhar para um hospital.