Saúde
Covid-19: médicos defendem isolamento social e medidas mais duras no Brasil
O Brasil ultrapassou a Índia e já é o segundo país do mundo com maior número de casos de Covid-19. Hospitais públicos e privados estão colapsando em todo o território nacional. No estado de São Paulo, segundo o cardiologista intensivista e coordenador de UTI do Hospital Igesp, Dante Senra, “uma pessoa morre à cada três minutos, vítima da Covid-19 e três pessoas são internadas a cada dois”.
“Na cidade de São Paulo, temos um aumento da média móvel de mortos de 49% e um aumento de 34% da média móvel de infectados. O estado de São Paulo tem 22 mil pacientes internados com Covid-19, sendo 10 mil de leitos de UTI. Cinquenta e um municípios no estado não têm nenhuma vaga para receber pacientes de Covid-19. Vinte hospitais regionais na região metropolitana de São Paulo também estão lotados, assim como os hospitais privados”, relata o médico.
Para a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Ethel Maciel, a falta de testagem em massa e o isolamento dos doentes são as principais causas do agravamento da pandemia.
“Os países que conseguiram maior controle da doença, testaram muito, isolaram em massa e impediram a doença. O Brasil apostou na doença. Apostou em esperar as pessoas adoecerem e chegarem aos serviços de saúde precisando de um leito”, diz.
“Não temos ainda um antiviral efetivo, então o que os serviços estão tratando são com medicamentos que vão conduzir melhor o caso nas ações que o vírus faz”, complementa.
Segundo Dante Senra, há cerca de um ano, ele apresentou ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estudos realizados que comprovam a eficácia do isolamento para a saúde, mas também para a economia.
“Um ano atrás, eu mostrei para o presidente Bolsonaro dois trabalhos – da MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts] e da The Federal Reserve – que estudaram o comportamento das cidades americanas durante a gripe espanhola. Os resultados comprovam que as cidades que tiveram comportamento mais restrito [durante a epidemia], tiveram melhor desempenho econômico durante o ano”, afirma.
Como exemplo, ele cita Araraquara, no interior de São Paulo que, após chegar no pior momento da crise, fechou por quinze dias tudo o que não era essencial. “Eles fecharam tudo por quinze dias e reduziram pela metade o número de transmissão e o número de mortos”.
Ethel e Senra lamentam a lentidão no acesso às vacinas e dizem que, com isso, a pandemia se prolongará por muitos meses no Brasil.
“Imaginávamos que as vacinas iam nos redimir, apostamos nas vacinas, elas são em número insuficientes”, diz Dante Senra.
“As medidas do governo e autoridades precisam mudar e evoluir com a evolução da ciência”, alerta Ethel.
Para a médica e professora, sem as vacinas, as autoridades precisam intensificar medidas de segurança que já conhecemos e, uma delas, seria a adoção em larga escala de máscaras filtrantes.
“A gente precisa de políticas públicas. Redução de imposto ou zerar o imposto para as máscaras PFF2 [Peça Facial Filtrante]. Nós temos 28 fábricas no Brasil que produzem estas máscaras, elas poderiam estar fabricando em massa e gerando empregos inclusive, para que a gente pudesse distribuir para a população no SUS”.
“Como a gente distribui preservativo para doenças sexualmente transmissíveis, a gente precisa distribuir máscaras filtrantes contra o SARS-CoV-2 e, principalmente, contra as novas variantes”, conclui.