Saúde
Câncer de mama: novo estudo aponta avanços no tratamento da doença sem quimioterapia
Um estudo publicado na renomada revista científica The Lancet traz boas notícias para a oncologia – especialmente no tratamento contra o câncer de mama. A pesquisa PHERGain mostrou que 94,8% das pacientes que usaram a terapia alvo com dois medicamentos permaneceram livres de câncer em três anos após a intervenção cirúrgica, independentemente de terem ou não recebido quimioterapia. Como achado mais impactante do estudo, 96,4% de um pequeno grupo de 86 pacientes que não receberam qualquer quimioterapia estavam livres de câncer em três anos.
A análise foi feita apenas com casos de tumores em estágio inicial com a alteração molecular conhecida por superexpressão do HER2 (HER2 positivo), um tipo considerado agressivo e que representa cerca de 20% dos casos de câncer de mama. “Esses resultados são muito promissores porque uma parte dessas pacientes não recebeu quimioterapia e, ainda assim, teve a mesma taxa de reincidência, baixíssima. Isso sugere que essa terapia alvo pode ser uma opção terapêutica que permite reduzir efeitos colaterais e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, sem perda de eficácia”, explica Max Mano, oncologista e líder nacional da especialidade de câncer de mama da Oncoclínicas.
O estudo clínico de fase II envolveu pesquisadores de 45 centros em 7 países europeus e incluiu um total de 356 pacientes e foi realizado pela MEDSIR, empresa líder dedicada a impulsionar a pesquisa clínica independente em oncologia a nível internacional, que desde 2022 conta com uma aliança estratégica com a Oncoclínicas&Co para impulsionar pesquisas clínicas independentes em toda a América Latina e liderar investigações globais em oncologia.
Embora os resultados tenham animado os especialistas da área, o médico ressalta que os avanços vêm para contribuir com a melhoria do tratamento, mas que a quimioterapia ainda é importante no tratamento desse tipo de câncer de mama, e o estudo precisa ser ampliado para um maior número de pessoas antes dessa estratégia poder ser mais amplamente adotada. Além disso, é importante acompanhar as pacientes do estudo por mais tempo, aponta o médico.
“Temos de ter cautela e ficar atentos aos limites desses resultados, mas ele nos deixa otimistas para o futuro. A oncologia vem caminhando para o desenvolvimento não só de medicamentos para a cura, mas também transformadores para a jornada de quem recebeu o diagnóstico, no sentido de melhoria da qualidade de vida. Inovações com terapias alvo, imunoterapia e genética vêm moldando esse cenário”, complementa Mano.
A pesquisa
O objetivo principal deste ensaio foi avaliar a viabilidade de uma estratégia terapêutica adaptativa baseada inicialmente em um tratamento exclusivo com bloqueio duplo de HER2 usando trastuzumabe e pertuzumabe no contexto pré-cirúrgico, e avaliando a adição posterior de quimioterapia com base na resposta precoce observada por PET-TC (um exame radiológico) e na resposta patológica completa (exame da peça cirúrgica ao microscópio), ou seja, reservando o emprego de quimioterapia somente para casos de estrita necessidade.
O ensaio foi liderado pela MEDSIR pelos pesquisadores Dr. Javier Cortés, Dr. Antonio Llombart-Cussac e Dr. José Pérez. “Os resultados deste estudo nos aproximam cada vez mais do fim da quimioterapia em uma porcentagem significativa de pacientes com esse tipo de tumor”, diz o Dr. Javier Cortés, pesquisador principal do estudo.
Câncer de mama
O câncer de mama figura entre os mais incidentes no Brasil, representando 10,5% das pessoas diagnosticadas com tumores malignos. Para este ano, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que dos 704 mil novos casos de câncer, 74 mil serão de mama, o que o torna líder do ranking dos que mais afetam a população feminina.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 2,3 milhões de pessoas em todo o mundo foram diagnosticadas com câncer de mama no ano de 2022, o que o faz ser o segundo no ranking de tumores mais incidentes em todo o mundo – atrás apenas do câncer de pulmão.