Paulo Pizão
Biópsia líquida é novo avanço para controle e cura do câncer
A oncologia de precisão ganhou uma importante aliada: é a biópsia líquida, que detecta a presença de materiais tumorais por meio da análise de uma amostra de sangue, colhida como um simples exame igual aos comuns de laboratório. Trata-se de um avanço em comparação à atual biópsia feita em fração do tumor. A novidade apresenta grandes vantagens, sendo quatro as mais importantes:
– É minimamente invasiva;
– Dá agilidade ao diagnóstico – que até então só era possível por meio de biópsia de um fragmento do tumor retirado através de cirurgia;
– Revela a presença de câncer mais precocemente, aumentando as chances de cura;
– Viabiliza um tratamento medicamentoso mais assertivo.
O oncologista Paulo Pizão explica que a tecnologia analisa o DNA tumoral circulante (ctDNA), uma vez que nos vasos sanguíneos de pacientes com câncer circulam várias substâncias ou biomarcadores derivados de tumores. E não é só no sangue que o fenótipo maligno está presente, mas a biópsia líquida também pode ser feita em outros líquidos do corpo, como o humor aquoso, saliva, ascite, líquido pleural, líquor e urina.
“A biópsia líquida é uma técnica não invasiva que identifica as substâncias liberadas pelas células cancerosas em quantidades mínimas permitindo a detecção da malignidade em um estágio inicial, o que pode salvar vidas”, salienta o médico.
O Dr. Pizão enfatiza que a biópsia líquida também pode ser usada para monitorar o progresso do tratamento do câncer. Como o procedimento permite a detecção de mutações genéticas e outras alterações no DNA, os médicos podem avaliar a eficácia do tratamento e fazer ajustes, se necessário, com muito mais rapidez e segurança. “A técnica pode ajudar a personalizar o cuidado e garantir que o paciente receba a terapia mais adequada para sua condição”, destaca.
Devido à possibilidade de realizar o exame diversas vezes, a biópsia líquida viabiliza o acompanhamento do efeito das terapias quase em tempo real. “Com isso, o médico pode prever se o paciente precisará de tratamento adicional e se desenvolverá resistência a certos medicamentos, apontando os que são pertinentes a cada tipo de tumor”, enfatiza Pizão.
O oncologista frisa que não está concluída a eficácia do exame para todos os tipos de câncer, que são mais de uma centena deles. Uma das principais evidências de que o exame é eficaz se deu por meio de um estudo japonês referente ao câncer de cólon e reto feito com mais de 5 mil pessoas e divulgado no final de 2022. No entanto, em várias partes do mundo, incluindo o Brasil, já são comercializados os kits para coleta do líquido para o exame, que, por enquanto, é enviado para análise nos Estados Unidos devido à ainda reduzida demanda.
O exame é de alto custo e ainda não é coberto pelos planos de saúde, mas a tendência, conforme o Dr. Pizão, é que esse cenário mude no futuro.
De acordo com a pesquisa no Japão, a biópsia líquida aponta a existência de elementos cancerosos na corrente sanguínea com o tumor até 10 mil vezes menor em tamanho do que a aferição obtida nos exames de imagem convencionais. “Para quem está tratando um câncer, a biópsia líquida parece ser só mais um exame de sangue. O oncologista, porém, recebe dados valiosos que podem transformar a condução da terapia”.
Segundo o Dr. Pizão, ao identificar o tipo e características específicas do câncer, a prescrição de medicamentos, cirurgia e outros tratamentos tendem a ser mais assertivos. “No caso de fármacos, há as terapias-alvo, com moléculas desenvolvidas para atacar tipos bem particulares de tumores. Quando uma mutação é relevada na amostra de DNA, é possível usar medicação direcionada para ela”, destaca.
Evitando a quimioterapia
Outra função bastante importante da biópsia líquida, de acordo com o Dr. Pizão, é a aplicação para verificar se há resíduo de células cancerosas após a extração cirúrgica do tumor.
“É comum, depois da cirurgia, passar por quimioterapia ou radioterapia a fim de inibir a chance de haver partículas tumorais que podem facilitar a volta do câncer. Quem faz a biópsia líquida – e o resultado não indica a presença de material residual do tumor – pode não precisar dessas sessões que debilitam o paciente”, explica o oncologista.
Sobre o Dr. Paulo Pizão
O oncologista Dr. Paulo Eduardo Pizão é um profissional global. Por ter trabalho como docente em faculdade, como pesquisador na indústria farmacêutica, gestor em instituições de saúde e por atuar no atendimento clínico, tem uma visão geral do setor e conhece o mecanismo desse segmento.
Coordena a equipe médica da Oncologia Vera Cruz Hospital; é pesquisador no Centro de Pesquisa Clínica São Lucas (PUC-Campinas) e coordena a disciplina de Oncologia Clínica no Curso de Medicina da Faculdade São Leopoldo Mandic, Campinas-SP.
Pizão é especialista em Oncologia Clínica pela Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO); especialista em Cancerologia (Oncologia Clínica) pela Associação Médica Brasileira; e PhD em Medicina (Oncologia) pela Universidade Livre de Amsterdam, Holanda.
Atualizado em 14/06/2023 – 07:22.
Cada gota faz a diferença
Novembro Roxo alerta para a importância do leite materno na prematuridade
A campanha Novembro Roxo conscientiza a população acerca dos desafios dos nascimentos prematuros em todo o mundo. A campanha tem a finalidade de alertar sobre o crescente número de partos prematuros, como preveni-los e informar a respeito das consequências do nascimento antecipado tanto para o bebê, família, sociedade e também para a equipe de saúde.
O roxo simboliza sensibilidade e individualidade, características que são muito peculiares aos bebês prematuros. Além disso, a cor também significa transmutação e mudança. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é considerado bebê prematuro aquele que nasce antes das 37 semanas de gestação. Subdivide-se a classificação em prematuros extremos, os que vieram ao mundo antes das 28 semanas e correm mais risco de vida.
Referência no atendimento a gestantes de alto risco da região de saúde sul e entorno sul do Distrito Federal, o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) acaba realizando um número elevado de partos prematuros devido à complexidade do serviço. Atualmente, o HRSM possui 20 leitos na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), 15 leitos na Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal (UCIN) e mais 51 leitos na Maternidade, sendo dez deles destinados às gestantes de alto risco, além de contar com um Banco de Leite Humano (BLH) e uma equipe multidisciplinar para prestar toda a assistência a este bebê prematuro e sua família desde seu nascimento.
Essencial para o desenvolvimento da criança, o leite materno é um aliado importantíssimo para a vida dos recém-nascidos, principalmente os prematuros, tendo em vista que em alguns casos, eles ainda não podem ter contato com a mãe para mamar.
“Cada gota consumida faz a diferença na vida deste bebezinho prematuro. Por isso, todos os dias passamos visitando e conversando com as mães, perguntando como elas estão, se elas têm conseguido tirar o leite. Nesse processo, bem informal, é possível identificar aquelas mães que apresentam dificuldade e prestamos um auxílio”, afirma a chefe do serviço de Banco de Leite Humano do HRSM, Maria Helena Santos Faria.
Segundo ela, as doações são essenciais, pois a prioridade são os bebês prematuros. “Temos uma média de 600 bebês receptores de leite humano por mês, sendo diariamente cerca de 35 bebês alimentados com nossos estoques”, explica. Em outubro, o BLH do HRSM conseguiu coletar um total de 206,19 litros de leite, ficando atrás do mês de setembro, quando foram arrecadados 214,28 litros. As doações são sempre necessárias.
Toda mãe que amamenta seu filho é uma potencial doadora e pode ajudar centenas de bebês. Quem tiver interesse, basta procurar o Banco de Leite Humano do HRSM ou se preferir, se inscrever pelo site do Amamenta Brasília, ou fazer o cadastro no telefone 160 – opção 4.
Atualizado em 21/11/2024 – 10:56.
Câncer de próstata
Exame de toque retal não pode ser substituído por PSA, diz patologista
A medição da concentração do antígeno prostático específico total (PSA), do inglês Prostate Specific Antigen, é mais um aliado na saúde masculina, mas não substitui o exame digital retal, que continua sendo o mais importante recurso adotado pelos médicos urologistas para o diagnóstico do câncer de próstata, mesma nas fases mais precoces da doença.
O médico patologista clínico e professor titular de Clínica Médica e Medicina Laboratorial da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (SBPC/ML), Dr. Adagmar Andriolo, esclarece que exames laboratoriais, como a medida do PSA total, com os cálculos da relação PSA livre sobre Total e do PHI (do inglês Prostate Health Index) e outros marcadores, devem ser entendidos como recursos complementares.
“Em relação ao exame digital e a medida do PSA, um não exclui o outro, portanto, os dois recursos devem ser realizados inicialmente, até mesmo para detectar, precocemente, a presença de câncer. Diante de uma suspeita clínica obtida pela história e/ou pelo exame digital e/ou pelo valor de PSA elevado, são realizados os exames de imagem, como a ressonância magnética e, somente, por fim, o de anatomia patológica ( biópsia), que auxilia na confirmação ou exclusão do diagnóstico”, explica.
Para a suspeita e posterior diagnóstico do câncer da próstata, vários aspectos devem ser considerados e, por essa razão, a consulta com o urologista se faz muito necessária. Dentre esses aspectos, ressaltam-se a idade do paciente, seu histórico pessoal e familiar, características anatômicas da glândula, dentre outros.
“Indivíduos com mais de 50 anos de idade possuem maior risco de desenvolverem esse tipo de câncer, assim como aqueles com história familiar na qual parentes de primeiro grau tenham tido câncer de próstata antes dos 50 anos (ainda que, do ponto de vista legal, parentes de primeiro grau sejam apenas pais e filhos, para essa avaliação, devem ser incluídos irmãos e tios paternos). Para esses indivíduos, está indicada uma avaliação mais precoce (antes dos 50 anos), que inclui, ao menos, o exame digital (toque) e medida do PSA total. Entendemos que há resistência das pessoas e muitos preferem fazer apenas o PSA, mas essa não é a recomendação médica, uma vez que, como em todos os exames laboratoriais, existe a possibilidade de resultados falso positivos e falso negativos”, detalha o professor Adagmar Andriolo.
Diante de evidências de tumor, o exame digital retal também é usado para direcionar a biópsia, caso necessário, com a finalidade de reduzir o risco de resultado falso negativo. O médico lembra que o exame de próstata não precisa, obrigatoriamente, ser anual, podendo ser realizado mais espaçadamente, a critério do urologista, baseado no risco individual.
“A idade de 50 anos para o primeiro exame digital retal e eventual medida da concentração do PSA é apenas para pessoas sem parentes próximos com câncer. Se a pessoa teve um irmão que apresentou o tumor antes dos 45 anos, o ideal é que ele comece a investigar também nessa mesma idade ou até um pouco antes. A mesma conduta deve ser aplicada ao indivíduos afrodescendentes, nos quais a ocorrência deste tipo de câncer é maior e , em geral, mais precoce” diz.
Alguns anos atrás, discutiu-se muito a validade da realização do exame de PSA como triagem populacional, chegando a ser contraindicado por entidades científicas internacionais. “Essa decisão se baseou no fato de que muitos pacientes eram encaminhados para realizar biópsia a partir de níveis alterados de PSA e os resultados eram negativo. para a presença de câncer. A supressão total de medida do PSA, no entanto, fez com que um grande número de pacientes fosse diagnosticado apenas em fases mais avançadas da doença, quando o tratamento é menos efetivo. A partir dessa constatação, as recomendações foram revistas e, no momento, o exame de PSA deve ser solicitado após avaliação adequada do risco do indivíduo e conscientização a respeito de suas limitações. Diante de alteração, faz-se exame de imagem e a biópsia é o último recurso na maioria dos casos”, explica Dr. Andriolo.
Sobre a SBPC/ML
A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) é uma associação de direito privado para fins não econômicos, fundada em 31 de Maio de 1944. Tem como finalidade congregar médicos, portadores do Título de Especialista em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial e de outras especialidades, regularmente inscritos nos seus respectivos Conselhos Regionais de Medicina, e pessoas físicas e jurídicas que, direta ou indiretamente, estejam ligados à Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, e estimular sempre o engrandecimento da especialidade dentro dos padrões ético-científicos.
Entre associados estão médicos patologistas clínicos e de outras especialidades (como farmacêuticos-bioquímicos, biomédicos, biólogos, técnicos e outros profissionais de laboratórios clínicos, estudantes de nível universitário e nível médio). Também podem se associar laboratórios clínicos e empresas fabricantes e distribuidoras de equipamentos, produtos e serviços para laboratórios. Ao longo das últimas décadas a SBPC/ML tem promovido o aperfeiçoamento científico em Medicina Laboratorial, buscando a melhoria contínua dos processos, evolução da ciência, tecnologia e da regulação do setor, com o objetivo principal de qualificar de forma permanente a assistência à saúde do brasileiro.
A SBPC/ML completou 80 anos em 2024. Além de fomentar o desenvolvimento contínuo da ciência, tecnologia e regulação no setor, a SBPC/ML lançou seu novo portal de notícias para aprimorar a comunicação com associados e a população, e está atualizando regularmente o Lab Tests Online, plataforma que oferece informações sobre exames laboratoriais, visando qualificar a assistência à saúde.
Atualizado em 20/11/2024 – 14:46.
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