Cidades
Adolescentro oferece terapia para jovens viciados em internet
A cada mês, aproximadamente 1,5 mil jovens que chegam ao Adolescentro em busca de atendimento apresentam dependência em internet e eletrônicos – computador, celular e videogames, segundo relato dos pais. Essa condição – que é considerada uma doença e precisa ser tratada – provoca prejuízos na escola, nas relações familiares e na saúde, já que até a alimentação é deixada de lado.
Um desses pacientes é Vitor David de Moraes, de 17 anos, que chega a passar mais de 13 horas por dia em frente ao computador. “Eu acordo, lavo o rosto e vou para o computador. Só consigo sair depois da meia-noite. Passo a maior parte do tempo jogando online. É um time com cinco jogadores que enfrenta outro grupo na arena. São vários personagens, com habilidades diferentes”, relatou o garoto.
O jovem deixou de lado a vida real para se concentrar no mundo virtual, criado na plataforma do jogo League of Legends e assistir aos famosos animes produzidos no Japão. “Vitor deixa de comer, esqueceu dos amigos e, até mesmo, parou de frequentar a escola por dois anos”, relatou o pai, que precisa trabalhar o dia inteiro e, por essa razão, tem dificuldade para controlar as atividades do filho.
“É um garoto inteligente, acima da média, mas os prejuízos estão atropelando essa vantagem”, relatou a assistente social que o acompanha, Ana Miriam Garcia. “Por diversas vezes, tentei me livrar desse vício. De vez em quando desinstalo o jogo, mas é difícil”, reconheceu o adolescente.
A assistente social relata que, na maioria dos casos, o controle familiar é muito importante para mudar a situação, que pode levar meses ou anos para ser revertida. “Precisa haver uma rotina imposta pela família que deve ser cumprida. No caso do Vitor, ele usa estratégias para manipular de forma que as coisas saiam do jeito dele”, avaliou.
Alerta – A médica psiquiatra da unidade, Marinês Teixeira, destaca que os pais devem ser alertados. A dependência pode ser notada quando os jovens começam a prejudicar as atividades do cotidiano, como as escolares, e coloca as relações com a família e amigos em segundo plano em função do uso de eletrônicos.
“Nós últimos três anos, aparecem casos diariamente. Naqueles mais graves, os adolescentes passam em média 10 horas ininterruptas no celular ou computador. Nas situações menos graves, esse tempo chega a quatro ou cinco horas, o que já é muito”, alertou.
Segundo ela, é comum que esses adolescentes passem a madrugada toda nas redes sociais, jogos, assistindo filmes ou navegando na internet. Dependendo do caso, eles precisam ser medicados para regularizar o sono noturno.
“Se ele estuda pela manhã, não acorda para ir à escola. Se estuda à tarde, acorda ao 12h, almoça e volta para o celular. A falta de sono é porque o cérebro está sendo estimulado a cada segundo. Isso é um problema grave”, afirmou.
A doença também faz com que os adolescentes emagreçam, por não se alimentarem adequadamente e nos horários corretos. Eles também se tornam agressivos e desafiam os pais. “A família tem que estar ciente dos riscos à saúde. O tratamento pode levar anos. A recuperação não é imediata”, finalizou.
Para ter acesso ao tratamento, os jovens podem ser encaminhados pelas unidades de saúde ou buscar o atendimento espontaneamente. No local, o tratamento é oferecido para as faixas etárias de 10 a 18 anos. O acompanhamento é multidisciplinar com assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras e odontologistas, entre outros profissionais.