Direitos descumpridos
Preconceito é entrave para a contratação de pessoas com deficiência
Após ser aprovado no concurso público para professor da rede estadual do Rio de Janeiro, João Carlos Carreira Alves foi barrado no exame médico. “O médico alegou a surdez em si, que isso seria um impeditivo para eu exercer o magistério”, conta. Ele recorreu e acabou conseguindo assumir a vaga.
Ensinou geografia a estudantes surdos por quatro anos. “Um cego passou pelo mesmo problema. Mas ele recorreu ao judiciário e consegui ser contratado. Eu não tinha consciência nem que tinha o direito de ter direito”.
Isso ocorreu em 1978. De lá para cá, segundo Alves, muita coisa mudou, mas ainda há barreiras a serem superadas para ampliar a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Essa é uma das bandeiras lembrada no Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência.
“No geral, a situação melhorou. Mas há muita gente esperta. Porém, são espertezas dentro da lei. Por exemplo, muitos surdos são contratados por somente quatro horas, que é o mínimo exigido por lei para contratação com carteira assinada”, explica.
Hoje, aos 63 anos, Alves trabalha como analista de tecnologia da informação. O que viveu aos 24 anos o marcou tanto que ele criou Comissão de Luta pelos Direitos do Deficiente Auditivo. “No quesito acessibilidade, a situação melhorou, mas falta atender os surdos que não falam e usam a língua de sinais”, diz.
De acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil são mais de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Sendo assim, essa data representa quase um quarto da população brasileira, cerca de 24%. Em 1991, a Lei de Cotas, Lei 8.213, passou reservar cargos em empresas para pessoas com deficiência.
Mercado de trabalho
Dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social de 2016 indicam que, caso as empresas seguissem a lei, pelo menos 827 mil postos de trabalho estariam disponíveis para essas pessoas, que são mais de 7 milhões de cidadãos que se enquadram nas exigências da legislação. Entretanto, apenas 381.322 vagas foram criadas.
“Muitas empresas preferem pagar multa do que ter pessoas com deficiência. Falta de vontade, elas estão presas ao que é cômodo. Para que vou contratar um cadeirante, se vou ter que me adaptar e não sei se ele vai responder com produtividade”, diz o analista de sistemas
Leonardo Knittel, 37 anos.
Com duas formações, em análise de sistemas e em relações internacionais, Knittel tem baixa visão. “Sempre as primeiras vagas que surgem são de qualificação muito baixa. É difícil. Quanto mais se tem qualificação, mais difícil achar emprego. “Eu me orgulho muito quando ouço que eu preencher uma cota é favor que estou fazendo, porque entrego produtividade e ainda ajudo a empresa a cumprir uma obrigação legal”.
Direitos descumpridos
Para a criadora e superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), Teresa Costa d’Amaral, o Brasil tem muita legislação para pessoa com deficiência, mas ela não é cumprida na íntegra. “Emprego e igualdade de condições ainda são questões muito difíceis, empresas ainda não acreditam na competência da pessoa com deficiência. Temos legislação de cotas, mas essa legislação não é fiscalizada”, diz.
Segundo Teresa, o grande entrave é o preconceito. “A pessoa com deficiência é vista com olhar negativo. Falta o olhar para aquilo que o empregado oferece de importante e no que pode contribuir para a empresa”.
Uma pesquisa feita pelo IBDD e pelo DataSenado mostra que 77% das pessoas com deficiência acreditam que os direitos não são respeitados no país. A pesquisa, feita em 2010, é considerada a mais completa por ter entrevistado diretamente as pessoas com deficiência. Segundo Teresa, ela ainda reflete o cenário atual.
Dia de luta
A data de 21 de setembro foi a escolhida para reforçar a importância da discussão de propostas e políticas públicas para integrar essas pessoas na sociedade de forma igualitária. A data foiescolhida porque está próxima do início da primavera, estação conhecida pelo aparecimento das flores e coincide com o Dia da Árvore, datas que representam o renascer das plantas, que simbolizam o sentimento de renovação das reivindicações em prol da cidadania, inclusão e participação plena na sociedade.
Operação Natal 2024
PRF inicia operações para coibir infrações nas rodovias federais
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) promete reforçar a fiscalização nas rodovias federais entre esta sexta-feira (20) e a próxima quarta-feira (25). Deflagrada à 0h desta sexta-feira (20), a Operação Natal 2024 prevê maior frequência nas rondas, além do posicionamento de equipes policiais em trechos identificados como os mais perigosos.
Durante a operação, que se estenderá até as 23h59 da quarta-feira de Natal, a PRF ampliará o efetivo policial nas rodovias federais para coibir, principalmente, as ultrapassagens indevidas. Entre janeiro e novembro deste ano, foram registradas 272.955 infrações deste tipo.
Embora o total de ocorrências tenha variado pouco em comparação ao resultado registrado em 2023 (270.165), o número de acidentes com feridos e mortos aumentou significativamente. Entre janeiro e novembro deste ano, 1.557 sinistros de trânsito associados à ultrapassagem indevida deixaram 2.287 feridos e 363 óbitos. No mesmo período do ano passado, foram 1.469 acidentes, com 2.263 feridos e 313 óbitos.
Em nota, o coordenador-geral de Segurança Viária da PRF, Jeferson Almeida, destaca que o motorista que realiza ultrapassagem indevida está colocando em risco não só sua própria vida, como a de seus eventuais acompanhantes e de outras pessoas.
“A ultrapassagem indevida já é perigosa por si só. Quando associada à velocidade excessiva para conseguir realizar a manobra e não se tem sucesso, os efeitos são muito danosos. São saídas de pista, colisões transversais ou frontais, circunstâncias em que o choque entre os veículos é mais intenso”, enumera Almeida.
O motorista flagrado realizando ultrapassagens indevidas pode ser multado em até R$ 2.934,70 e ter o direito de dirigir suspenso.
Rodovida
A Operação Natal 2024 é a primeira das grandes ações da Operação Rodovida 2024/2025, que a PRF lançou nesta quarta-feira (18). Com o tema Desacelere: Seu Bem Maior é a Vida, a iniciativa se estenderá até 9 de março de 2025, com o objetivo de tentar reduzir as ocorrências por excesso de velocidade nas rodovias federais.
De janeiro a outubro deste ano, o excesso de velocidade resultou em mais de 5 milhões de autos de infração – mais que o dobro dos 2,1 milhões de autuações registradas no mesmo período de 2023. Apesar da alta significativa nas infrações, a PRF registrou queda no número de sinistros de trânsito e mortes em que a causa principal foi o excesso de velocidade. De janeiro a outubro deste ano, foram 3.478 sinistros e 358 óbitos. No ano passado, foram 3.508 ocorrências e 381 mortes.
Por outro lado, entre janeiro e outubro de 2024, a PRF registrou 9.013 sinistros de trânsito atribuídos à reação tardia ou ineficiente dos condutores, o que resultou em 10.506 feridos e 575 mortes. A correlação entre o excesso de velocidade e a reação tardia ou ineficiente dos condutores é um dos principais desafios para a segurança viária. A velocidade excessiva reduz o tempo de reação necessário para desviar de obstáculos, frear a tempo ou lidar com mudanças inesperadas na via. Isso se reflete nos dados, uma vez que a velocidade elevada pode ser fator determinante em muitos sinistros de trânsito fatais com vítimas.
IBGE
Inflação que calcula reajuste do salário mínimo fica em 4,84%
O índice de inflação que faz parte do cálculo do reajuste anual do salário mínimo fechou novembro em 0,33%, chegando a 4,84% no acumulado de 12 meses. Os dados referentes ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) foram divulgados nesta terça-feira (10), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O salário mínimo de 2024 é de R$ 1.412. Para 2025, a regra de reajuste em vigor determina que o valor sofra duas correções. Uma é pelo INPC de 12 meses acumulado até novembro do ano anterior, 2024. Ou seja, 4,84%.
A segunda correção é o crescimento da economia de dois anos antes, no caso, 2023. No último dia 3, o IBGE revisou os dados do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) de 2023, passando de 2,9% para 3,2%.
Por essa regra, o salário mínimo de 2025 seria R$ 1.527,71. Com o arredondamento previsto em lei, a valor sobe para R$ 1,528. Reajuste de 8,22%.
Nova regra
No entanto, no início do mês, o governo enviou à Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL) 4614/24, que faz parte de um pacote de corte de gastos. O texto busca ajustar as despesas ligadas ao salário mínimo aos limites do chamado arcabouço fiscal – mecanismo que controla a evolução dos gastos públicos. Dessa forma, o salário mínimo continuaria a ter um ganho acima da inflação, mas limitado a um intervalo entre 0,6% e 2,5%.
A intenção do governo é aprovar o projeto de lei ainda em 2024, de forma que a nova forma de reajuste do salário mínimo vigore para 2025. No último dia 4, o plenário da Câmara aprovou que o texto tramite em regime de urgência, o que acelera a discussão.
Caso a matéria seja aprovada, o salário mínimo receberia duas correções: os 4,84% do INPC mais 2,5%. Assim, o valor iria a R$ 1.517,34. Com o arredondamento, R$ 1.518, reajuste de 7,51% e valor final R$ 10 menor que o da regra atual.
A justificativa do governo para alteração da fórmula de reajuste é reduzir despesas que têm o salário mínimo como piso, a exemplo dos benefícios previdenciários, seguro-desemprego e abono salarial.
“O projeto de lei é fundamental para dissipar incertezas que afetam os preços dos ativos da economia brasileira, garantindo resiliência ao regramento fiscal, ao mesmo tempo em que assegura maior espaço fiscal a despesas discricionárias com fortes efeitos multiplicadores, como os investimentos públicos”, justifica o governo na mensagem que acompanha o projeto.
Revisão
Sendo ou não aprovado o projeto, o governo terá que revisar cálculos, pois o PL Orçamentário Anual para 2025 – enviado para o Congresso Nacional em 30 de agosto – estimava reajuste de 6,87% para o salário mínimo, o que elevaria para R$ 1.509.
O percentual de 6,87% era composto por 3,82% – previsão do INPC – mais 2,91% – crescimento do PIB de 2023 antes de ser revisto pelo IBGE.
INPC x IPCA
O INPC conhecido nesta terça-feira tem divulgação sempre paralela a outro índice do IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), comumente chamado de inflação oficial. A diferença entre ambos é que o INPC apura a variação do custo de vida para as famílias com renda de até cinco salários mínimos. Já o IPCA, até 40 salários mínimos.
O IPCA fechou novembro em 0,39% e acumula 4,87% em 12 meses.
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